nós que vivemos graves junto da madeira
velha de nossas casas mastigando
alguns talos de couve mal cozida
e pano de lençol nos dentes já usados
nós que transcrevemos as manchas e rasgamos
rascunhos muito antigos e alguns nossos projectos
recuperando móveis e faianças
e todas as maçãs onde habitámos
nós que temos cimento ferramentas greves
e um pouco de corelli e um sistema
respiratório e caracteres de imprensa
e um plano geral de arruamentos
e que temos livros e que estamos vivos
podemos construir alguma coisa
Extraído de Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI
Porto Editora
Vasco Navarro da Graça Moura nasceu na Foz do Douro (Porto), a 3 de Janeiro de 1942.
Ler do mesmo autor, neste blog:
Blues da Morte de Amor
o soneto encontrado na garrafa
Soneto do amor e da morte
Lamento por Diotima
1 comentário:
Sempre podemos, basta ter coragem!!
Boa semana!! Beijus,
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