Invento-te recordo-te distorço
a tua imagem mal e bem amada
sou apenas a forja em que me forço
a fazer das palavras tudo ou nada.
A palavra desejo incendiada
lambendo a trave mestra do teu corpo
a palavra ciúme atormentada
a provar-me que ainda não estou morto.
E as coisas que eu não disse? Que não digo:
Meu terraço de ausência meu castigo
meu pântano de rosas afogadas.
Por ti me reconheço e contradigo
chão das palavras mágoa joio e trigo
apenas por ternura levedadas.
in 'O Sangue das Palavras'
José Carlos Ary dos Santos nasceu em Lisboa a 7 de Dezembro de 1937 e faleceu a 18 de
Janeiro de 1984
2 comentários:
A força do Ary!
Vamos logo à UNICEPE ouvir a poesia de Pedro Enríquez, de Granada?
Abraço,
Rui
Querido amigo; um soneto maravilhoso, refogado de amores, sonhos e ânsias... amores distantes, sonhos quase perdidos... Lindo!
Beijos
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