A Via Crucis foi uma selvageria,
a Crucifixão uma brutalidade;
mas em três, quatro horas, acabou a agonia,
baixou a eternidade.
Eu vivo aqui, crucificada noite e dia,
carrego da manhã à tarde
o meu lenho de opróbrio e a noite me excrucia
lenta, fria, covarde.
Ah, como eu preferia
que me crucificassem de uma vez, sem o alarde
de algum terceiro dia!
Mas toca-me seguir nessa monotonia,
a agonia de alçar-me do catre
e abrir de novo os braços, vazia.
Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino (Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1940 — São Paulo, 27 de junho de 2007)
in As horas de Katharina (Companhia das Letras, 1994)
Ler do mesmo autor, neste blog:
Mecanismos
O Espírito da Letra
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