Quem te viu como eu vi, em meus braços perdida,
sem dúvidas e enleios,
o corpo, como as curvas de uma estrada
por onde louco me fui em constante escalada,
do vale de teu ventre
aos cumes de teus seios...
Quem te sentiu assim, quando estávamos sós,
com teus braços em torno a mim
como cipós,
teus braços delicados, de repente possantes
e ardentes
como ondulantes
serpentes...
Ah! quem provou a força imprevista que punhas
nesse laço,
sentindo sobre mim, como estranhas picadas,
as tuas unhas
cravadas
em cada abraço...
Quem te teve como eu - toda, inteirinha -
(cada encontro era uma lua-de-mel, uma boda!)
quem como eu te sentiu minha,
com essa ânsia da terra sedenta a erguer no alto
os ramos,
estonteada de luz e calor,
entregando-se toda
à carícia molhada da chuva
sem pudor...
Ah! quem te teve assim, e te tem, e te quer,
nesta loucura imensa
que às vezes nem parece amor, parece doença,
e sente que possui de ti nestes instantes
a tua alma e o teu ser,
não precisa seguir mais... nem um passo que seja!
- teve tudo afinal que se quer ou deseja,
já podia morrer...
poema extraído daqui
José Guilherme de Araújo Jorge (nasceu na Vila de Tarauacá, Estado do Acre a 20 de maio de 1914 - m. no Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 1987)
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