Sobre a tua cabeça
Sobre a tua cabeça a espada.
Não te movas, nenhum gesto,
nenhum grito, pois a espada
pode cair.
Pende sobre os teus cabelos
a espada nua. Cuidado!
Nenhuma blasfêmia, ou mesmo
orações, senão a lâmina
cairá.
Não movas o braço ou a face
para o lado do mar tranquilo.
Olha à frente, não te assustes
com a sombra trêmula. É o vento
tocando a espada.
À tua direita, os amigos
te insultam. Fica em silêncio.
Não te mexas, pode a espada
desprender-se, e os teus amigos
gozarão tua agonia.
Mulheres, macias pétalas,
acariciam teu corpo.
Não te encantes, pois quem sabe
se, partindo o fio, a espada
destruirá teu amor?
Os teus colegas, à esquerda,
contam anedotas. Não rias.
Pode a alegria matar.
A espada é o remorso ou a bênção?
Ninguém sabe... Só percebes
que sobre a cabeça pálida
pende o invisível.
Odorico Bueno de Rivera Filho, mais conhecido por Bueno de Rivera (nasceu a 3 de abril de 1911 em Santo Antônio do Monte, Minas Gerais — m. 25 de junho de 1982, Belo Horizonte)
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