Vem a tarde, afinal... E as quérulas avenas
de um rancho de zagais, em chorosa surdina,
põem trémulos de dor, de saudades terrenas,
no claro-escuro da tristeza vespertina. . .
Ao dorido langor de agrestes cantilenas,
a lâmpada do ocaso as coisas ilumina;
o crepúsculo entreabre as rosas e as verbenas,
como a interrogação da dúvida divina.
Longe, a tarde se estorce, em violácea agonia.
Essas horas de susto e de melancolia,
como é triste ao pastor transviado entendê-las!
Pelas moitas sem luz, pelos ermos escampos,
com cabelos de luar e olhos de pirilampos,
desce a noite, tangendo o rebanho de estrelas...
in A Circulatura do Quadrado, Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa; Edição Unicepe
Cassiano Ricardo Leite (São José dos Campos, 26 de julho de 1895 — Rio de Janeiro, 14 de janeiro de 1974)
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