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2010-12-13

Os rios atônitos - José Eduardo Agualusa (nos 50 anos do escritor angolano)

 (Ouvindo "Kongo", por Miriam Makeba)


Há palavras a dormir sobre o seu largo
assombro
Por exemplo, se dizes Quanza ou dizes Congo
é como se houvesse pronunciado os próprios
rios
Ou seja, as águas
pesadas de lama, os peixes todos e os perigos
inumeráveis
O musgo das margens, o escuro
mistério em movimento.

Dizes Quanza ou dizes Congo e um rio corre
Lento
em tua boca.

Dizes Quanza
e o ar se preenche de perfumes perplexos.

E dizes Congo
e onde o dizes há grandes aves
e súbitos sons redondos e convexos.

E dizes Quanza, ou dizes Congo
e sempre que o dizes acorda em torno
um turbilhão de águas:
a vida, em seu inteiro e infinito assombro.

(Palavra de poeta - Antologia)
José Eduardo Agualusa (nasceu no Huambo, Angola a 13 de Dezembro de 1960)

Ler do mesmo autor: Tempo das Chuvas

1 comentário:

Lúcia Laborda disse...

Oie meu amigo; não importa o que se diz; muitas palavras são apenas grafias diferentes, mas são reflexões sobre o mesmo tema, conforme ele se apresenta.
Boa semana! Beijos

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