Como um fósforo a arder antes que cresça
a flama, distendendo em raios brancos
suas línguas de luz, assim começa
e se alastra ao redor, ágil e ardente,
a dança em arco aos trêmulos arrancos.
E logo ela é só flama, inteiramente.
Com um olhar põe fogo nos cabelos
e com a arte sutil dos tornozelos
incendeia também os seus vestidos
de onde, serpentes doidas, a rompê-los,
saltam os braços nus com estalidos.
Então, como se fosse um feixe aceso,
colhe o fogo num gesto de desprezo,
atira-o bruscamente no tablado
e o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado,
a sustentar ainda a chama viva.
Mas ela, do alto, num leve sorriso
de saudação, erguendo a fronte altiva,
pisa-o com seu pequeno pé preciso.
(Tradução: Augusto de Campos)
Reiner Maria Rilke (nasceu em Praga em 4 de dezembro de 1875; m. em Valmont, Suiça a 29 Dez. 1926)
Ler, neste blog, do mesmo autor:
Amo as Horas Sombrias do Meu Ser
O Poeta /The Poet;
O Mundo Estava no Rosto da Amada
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