Neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas
neste meu desejo irreflectido de te possuir num trampolim
nesta minha mania de te dar o que tu gostas
e depois esquecer-me irremediavelmente de ti
Agora na superfície da luz a procurar a sombra
agora encostado ao vidro a sonhar a terra
agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
e depois matar-te e dar-te vida eterna
Continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros
continuar a viver até cristalizar entre neve
continuar a contar a lenda duma princesa sueca
e depois fechar a porta para tremermos de medo
Contar a vida pelos dedos e perdê-los
contar um a um os teus cabelos e seguir a estrada
contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
e depois contar um a um os teus dedos de fada
Abrir-se a janela para entrarem estrelas
abrir-se a luz para entrarem olhos
abrir-se o tecto para cair um garfo no centro da sala
e depois ruidosa uma dentadura velha
E no CIMO disto tudo uma montanha de ouro
E no FIM disto tudo um Azul-de-Prata.
in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI
selecção, organização, introdução e notas de Jorge Reis-Sá e Rui Lage
Prefácio de Vasco da Graça Moura
Porto Editora
António Maria Lisboa (nasceu em Lisboa, 1 de Agosto de 1928 — m. Lisboa, 11 de Novembro de 1953)
Ler do mesmo autor, no Nothingandall: Projecto de Sucessão
1 comentário:
Valei-me Deus!!!
Chego hoje aqui e encontro nada menos que 45 posts para ler e colocar em dia! Estou bem atrasadinha... (risos)
Tenho que organizar melhor meus horários que estão louquíssimos por conta dos novos afazeres de Carmencita e que tenho que estar levando daqui prá lá, de lá prá cá... e quando chega a noite o corpo só pede cama... mas pelo menos já dei uma visitada ao meu querido amigo Fernando e isso já é alguma coisa (risos)...
Querido amigo!
Deixo-te hoje beijos, flores, muitos sorrisos e um pouco de tuas poesias... :)
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