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2010-11-26

Joana - Gregório de Matos

ACHANDO-SE O POETA EM UMA FESTIVIDADE NA IGREJA DE SÃO FRANCISCO DAQUELA VILA, VIU ESTAS TRÊS MOÇAS; E ENTRANDO EM QUESTÃO COM OUTROS AMIGOS, QUE ALI ESTAVAM SOBRE QUAL ERA A MAIS FORMOSA, ELEGE ENTRE AS TRÊS A JOANA POR MAIS FORMOSA E SINGULAR.

1 Dão agora em contender
sobre qual Moça é mais bela,
Joana, se a parentela,
e eu me não sei resolver:
se eu pudera a Páris ser
de tão diversos Zagalos,
de tais garbos, de tais galas,
não só Joana julgara,
que as mais prefere na cara
mas a Vênus, Juno, e Palas.

2 Se Páris julgou com risco,
pois pela sentença dada
vemos a Tróia abrasada,
arda embora São Francisco:
reduzida a cinza, ou cisco
o sítio de idade a idade
dê assunto à posteridade;
arda ao sítio, o mundo arda,
viva Joana galharda,
e eu morra pela verdade.

3 As mais são muito formosas,
mui graves, e mui atentas,
mas Joana entre as Parentas
é Almirante entre as rosas:
as estrelas luminosas
sendo à Lua paralelas
são belas, mas menos belas,
e assim Joana em rigor
sendo a Luminar maior
és mais bela, que as estrelas.

4 Um Céu a Igreja se viu,
onde em luzido arrebol
brilham astros, veio o Sol,
e as estrelas desluziu:
qual sol Joana subiu,
e os astros escureceu;
se o que sucede no Céu,
sucede na Terra enfim,
bem haja eu, que o julgo assim
porque assim me pareceu.

Gregório de Matos Guerra (Salvador, 23 de dezembro de 1636 — Recife, 26 de novembro de 1695)*
*Há diversas datas consoante as fontes. Seguiu-se esta

Ler do mesmo autor, neste blog: Contente, alegre, ufano passarinho; Soneto Lírico

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