Tu já ouviste falar
– Pxiu! Pxiu!… Mas anda cá, anda
Para ninguém escutar!
Nesse tal mimo encantado.
Em certo ar que é aroma?
- Desde tanto, embalsamado,
Em certo céu que é redoma?…
Anda cá, anda escutar:
Tu já ouviste falar
No branco riso das águas
E nuns tais sonhos do mar?
…Numas cascatas de flores
Brincando por entre montes,
Como brincam os amores;
E nos mimos dumas fontes
Como a querer embalar?
Tu nunca ouviste falar
Nuns sonhos lindos tecidos
Numas rocas de fiar,
Onde as brisas são as fadas
E as lãs são nuvens do céu
E os dedos encumeadas,
Enredando um ténue véu
Para nos embriagar?
Não ouves falar num ninho
Feito nas ondas do mar;
Onde as ondas, como arminho,
Num doce manto beijando,
Parecem baixo rezar?
– Outras vezes vão cantando,
Como visão de encantar
Envolvida em alvo linho!
Tu já ouviste falar?…
Tu sabes que existe o céu
Com anjos, lá, a brincar;
Sabes que existe o amor!…
Pois neste mimo encantado
Há reflexo condutor,
Como num sonho doirado,
De amor e céu a brilhar.
Se nunca ouviste falar
Eu vou dizer-to, baixinho,
Para ninguém escutar…
É tão belo este segredo!…
É tão leve e tão suave
Que, acredita, tenho medo
Que uma brisa, ou voo de ave
M'o possa desencantar!
Oh ouve! Anda, anda escutar
O mago nome dum mimo
Feito, por Deus, sobre o mar:
MA… Já Deus deitou um beijo!
DEI… rolou mais uma estrela!
RA!… oh! fez-se o seu desejo!
Sim, MADEIRA! Ouviste? Vê lá?
Nunca o deixes olvidar!
António Manuel de Sousa Aragão Mendes Correia (nasceu em São Vicente, Ilha da Madeira, a 22 de Setembro de 1925; † Funchal, 11 de Agosto de 2008)
Ler do mesmo autor, neste blog: Soneto: Tudo fora perfeito em tempos idos
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