Eu vi quando a mulher bonita passou.
As casas deitaram-lhe olhares compridos de cobiça,
as pedras da calçada sorriram-lhe ao serem pisadas,
o sol derramou-lhe punhados de ouro nos cabelos.
O vento beijou-lhe o corpo ondulante,
perfumando-o de essências de sândalo
trazidas de longe, do coração das matas;
até as árvores se curvaram reverentes.
Eu tive inveja daquelas pedras,
eu tive ciúme daquele sol,
ah! se eu pudesse ter sido aquele vento!...
Eu vi quando a mulher bonita passou.
Mas não lhe vi o vestido,
nem os anéis,
nem os sapatos.
Via-a num halo de luz, como um arcanjo do Senhor
(rosas floriam nos rosais e pássaros cantavam,
quando ela passou).
Mulher bonita, mulher bonita!
Ó tu que és do Criador a obra-prima
e a inspiradora de todos os artistas;
ó tu que é o fundo musical de todos os poemas
e a dourada fonte de todos os sonhos bons;
ó tu que sabes aranholar do amor
as feiticeiras teias,
tem compaixão das que não nasceram bonitas.
Piedade para as que nasceram feias!
Poema extraído daqui
Demóstenes Cristino (nasceu no dia 14 de julho de 1894 na Fazenda Caju, Distrito de Entre Folhas, Caratinga (MG); m. em Ipameri, a 18 de abril de 1962)
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