Olha estas velhas arvores frondosas
Que enchem de sombra a solitaria rua,
E esse chão de verduras, e aquellas rosas
Que dos muros se prendem curiosas
Para verem passar a imagem tua.
Não te diz tudo amor? Ouves? Suspende!
Lá derramam as aves pela selva
As doces notas que tu'alma entende:
Vês? Mais pallido um raio a lua estende
Para beijar-te os pés na escura relva.
Quando sabem que vens, tudo prepara
Recepção festival, como se fosse
Cousa do ceu que por aqui passara;
Então a luz dos astros é mais clara,
Das florinhas o halito mais doce.
Gorgea o rouxinol já de mais perto,
Gemem as auras melodioso idylio,
Em tudo ha um som de canticos incerto,
E do livro das arvores aberto
Chovem rimas d'Horacio e de Virgilio.
Eu pela tua mão, calcando a alfombra
Do verde musgo, absorto em sonhos vagos,
Scismo no teu amor que est'alma assombra,
E julgo que nos ceus por entre a sombra
Nos está rindo a estrella dos Reis Magos.
É que, se a natureza, que te admira,
O musgo e o cedro, as rosas e o perfume,
Formam, para cantar-te, ignota lyra,
Nos seios de minh'alma outra suspira
Que mais poesia e mais amor resume.
in Heras e Violetas: poesias, Guilherme Braga, Porto 1869, Editor F. L. Ferraz
Guilherme da Silva Braga (Porto, 22 de Março de 1845 – Porto, 26 de Julho de 1874)
1 comentário:
So beautiful poem. Loved reading it
Thanks for sharing
http://dharbarkha.blogspot.com/
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