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2010-06-13

Adeus - Eugénio de Andrade

Como se houvesse uma tempestade
escurecendo os teus cabelos,
ou se preferes, a minha boca nos teus olhos,
carregada de flor e dos teus dedos;

como se houvesse uma criança cega
aos tropeções dentro de ti,
eu falei em neve, e tu calavas
a voz onde contigo me perdi.

Como se a noite viesse e te levasse,
eu era só fome o que sentia;
digo-te adeus, como se não voltasse
ao país onde o teu corpo principia.

Como se houvesse nuvens sobre nuvens,
e sobre as nuvens mar perfeito,
ou se preferes, a tua boca clara
singrando largamente no meu peito.


in Cem Poemas Portugueses do Adeus e da Saudade; selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria; Terramar
Eugénio de Andrade (nasceu em Póvoa de Atalaia a 19 Jan. 1923; m. no Porto a 13 Jun. 2005)

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