Tudo na vida clama que a felicidade terrena está destinada ao malogro ou a ser conhecida como uma ilusão. Os dispositivos para isso encontram-se profundamente na essência das coisas. [... ] A vida expõe-se como um engodo contínuo, tanto nas coisas pequenas como nas grandes. Caso ela tenha prometido, não cumpre; caso cumpra, é para mostrar quão pouco digno de desejo era o desejado: assim nos enganam ora a esperança ora o objecto da esperança. Forneceu-nos a vida algo, é para nos tirar. O encanto da distância mostra-nos paraísos, os quais desaparecem como ilusões de óptica quando nos permitimos ser por eles ludibriados. A felicidade, em consonância com tudo isso, reside sempre no futuro, ou também no passado, e o presente é comparável a uma pequena nuvem negra que o vento impele sobre a superfície do Sol; à frente e atrás tudo é brilhante, só ela lança sempre uma sombra. O presente, por conseguinte, é a todo o momento insuficiente; o futuro, entretanto incerto; o passado irrecuperável. [...] A vida é um negócio que não cobre os seus custos.
SCHOPPENHAUER (1844)
SCHOPPENHAUER (1844)
in O Livro das Citações - Eduardo Gianneti, Publicações Dom Quixote
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