Debruçada nas águas dum regato,
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava…
"Ai, não me deixes, não!"
"Comigo fica, ou leva-me contigo
Dos mares à amplidão:
Límpido ou turvo, te amarei constante;
Mas não me deixes, não!"
E a corrente passava; novas águas
Após as outra vão;
E a flor sempre a dizer, curva na fonte:
"Ai, não me deixes, não!"
E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão,
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
"Ai, não me deixes, não!"
Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.
A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
"Não me deixaste, não!"
Antônio Gonçalves Dias (nasceu no dia 10 de agosto de 1823, nos arredores de Caxias, no Maranhão. Faleceu ao regressar de uma viagem à Europa, no naufrágio do "Ville de Boulogne", já próximo do Maranhão, a 3 de novembro de 1864).
Ler do mesmo poeta, neste blog: Se Se Morre de Amor; Canção do Exílio
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