Por entre o crepitar dos automóveis
o bulício inquebrável da cidade
o relincho das nuvens quando imóveis
me oferecem na garupa a liberdade,
por entre o que hoje sei e nunca sei
deste abrupto silêncio que me invade
sem que uma nesga azul do que inventei
deixe de ser mentira ou ser verdade,
pudera um dia alguém ter leve imagem
de mim que fico e parto sem vontade
ao sabor de um destino de viagem,
pudera eu querer parar em minha idade,
aperceber-me enfim da percentagem
que sobrando me está de eternidade.
Extraído de Cem Sonetos Portugueses, selecção, organização e intyrodução de José Fanha e José Jorge Letria, Terramar
Maria Alberta Rovisco Garcia Menéres de Melo e Castro (Vila Nova de Gaia, 25 de Agosto de 1930)
Ler do mesmo autor: Entre a sombra e a noite
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