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2009-08-15

EU QUERO - Euclides da Cunha (na passagem do centenário da sua morte)

Patativa chorona (Sporophila leucoptera) imagem daqui

Eu quero à doce luz dos vespertinos pálidos
Lançar-me, apaixonado, entre as sombras das matas
- Berços feitos de flor e de carvalhos cálidos
Onde a Poesia dorme, aos cantos das cascatas...

Eu quero aí viver - o meu viver funéreo,
Eu quero aí chorar - os tristes prantos meus...
E envolto o coração nas sombras do mistério,
Sentir minh'alma erguer-se entre a floresta de Deus!

Eu quero, da ingazeira erguida aos galhos úmidos,
Ouvir os cantos virgens da agreste patativa...
Da natureza eu quero, nos grandes seios túmidos,
Beber a Calma, o Bem, a Crença - ardente a altiva.

Eu quero, eu quero ouvir o esbravejar das águas
Das asp'ras cachoeiras que irrompem do sertão...
E a minh'alma, cansada ao peso atroz das mágoas,
Silente adormecer no colo da so'idão...

Euclides da Cunha (nasce a 20 de Jan 1866 na Fazenda Saudade, em Santa Rita do Rio Negro (atual Euclidelândia ), município de Cantagalo, Rio de Janeiro; m. 15 de Agosto de 1909)

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