Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face
Mas tu és de todos o ausente o ausente
Nem o teu ombro me nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo
(em que não moras)
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio
Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente
in Livro Sexto, Obra Poética de Sophia de Mello Breiner Andresen, Editorial Caminho
Sophia de Mello Breyner Andresen (nasceu no Porto a 6 de Novembro de 1919; m. Lisboa, 2 de Jul 2004)
Ler da mesma autora, neste blog:
Porque
Promessa
Liberdade
Soneto
Pudesse eu
Partida
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