Se eu morrer, saibam todos que vivi
a lutar pela vida e pela paz.
Quase não pude com a pluma sempre,
aplaudam meu cantar.
Se eu morrer, será porque nasci
para entregar o tempo aos que vêm atrás.
Confio que entre todos deixaremos
o homem em seu lugar.
Se eu morrer, já sei que não verei
tangerinas jamais, nem o trigal.
Mas levantei o ancinho, isso me basta.
Outros hão-de crivar.
Se eu morrer, não me morram nunca antes
de a varanda vos abrir de par em par.
Uma criança talvez esteja a olhar
meu peito de cristal.
trad. José Bento, in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim
Blas de Otero Muñoz (n. Bilbao, 15 de Mar. de 1916 - m. Madrid, 29 de Jun de 1979)
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