National Gallery of Art, Washington, D.C; Venturi 796
Trazia consigo a graça
das fontes quando anoitece.
Era um corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens quando desce.
Andava como quem passa
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos,
cresciam troncos dos braços
quando os erguia no ar.
Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.
E seguia o seu caminho,
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
duma flauta que tocava.
in 366 poemas que falam de amor, antologia organizada por Vasco da Graça Moura, Quetzal Editores
Eugénio de Andrade (n. em 19 Jan 1923 na Póvoa de Atalaia, Fundão; m. no Porto a 13 Jun 2005).
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