Já um pouco de vento se demora;
Já sua força vale a de uma mão
Nestes papéis que trago para fora,
Que o campo dá certeza e solidão.
O calor fez a casa mais delgada,
Agora colho a tarde: a vida não.
Sou a macieira carregada:
De palavras a mais cobri o chão.
Árvores há no outono que conhecem
O toque e ardor das folhas de amanhã
E esperando-as, altas, adormecem.
Com espaço e vento nunca a vida é vã.
Eu volto à mão do outono em meus papéis.
Penso e, indiscreto, o ar remove
Estas imagens cruéis
Que a minha vida comove
Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva (n. Praia da Vitória, 19 de Dezembro de 1901 — m. Lisboa, 20 de Fevereiro de 1978)
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