Há tanta sensação que não conheço,
tanto vibrar de nervos que não sinto;
e contudo parece que os pressinto,
apesar de ver bem que os desconheço.
A sensação que tem, à noite, o ar,
quando o orvalho o toca, em beijos de água,
é porventura, irmã daquela mágoa
que sente, quando chora, o meu olhar?
Tem, porventura, alguma semelhança
a sensação dum cravo numa trança,
com a ânsia de quem morre afogado?
E fico-me a pensar que sentirá
uma vidraça quando o sol lhe dá,
e a rasga a mão de luz, de lado a lado...
João Lúcio Pousão Pereira nasceu a 4 de Julho de 1880 em Olhão (Algarve), onde foi vítima de uma epidemia a 27 de Outubro de 1918. Sobrinho do pintor Henrique Pousão, formou-se em Direito por Coimbra em 1902. Jurisconsulto, orador e deputado, foi também um poeta verboso e irregular, mas com momentos fulgurantes. Na sua obra, há simbolismo, decadentismo, nefelibatismo, esteticismo, impressionismo e transcendentalismo. O seu melhor volume de poesia é de publicação póstuma: «Espalhando Fantasmas» (1921).
Ler do mesmo autor Tarde de Leite e Rosas Ouvindo Floresta
Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
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