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2008-10-15
Segundo dos Poemas da Infância - Manuel da Fonseca
Quando foi que demorei os olhos
sobre os seios nascendo debaixo das blusas,
das raparigas que vinham, à tarde, brincar comigo?...
... Como nasci poeta,
devia ter sido muito antes que as mães se apercebessem disso
e fizessem mais largas as blusas para as suas meninas.
Quando, não sei ao certo.
Mas a história dos peitos, debaixo das blusas,
foi um grande mistério.
Tão grande
que eu corria até ao cansaço.
E jogava pedradas a coisas impossíveis de tocar,
como sejam os pássaros quando passam voando.
E desafiava,
sem razão aparente,
rapazes muito mais velhos e fortes!
E uma vez,
de cima de um telhado,
joguei uma pedrada tão certeira,
que levou o chapéu do senhor administrador!
Em toda a vila,
se falou, logo, num caso de política;
o senhor administrador
mandou vir, da cidade, uma pistola,
que mostrava, nos cafés, a quem a queria ver;
e os do partido contrário,
deixaram crescer o musgo nos telhados
com medo daquela raiva de tiros para o céu...
Tal era o mistério dos seios nascendo debaixo das blusas!
in Rosa do Mundo 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim
Manuel Lopes da Fonseca (n. em Santiago do Cacém a 15 Out 1911 ; m. 11 Mar 1993)
Ler do mesmo autor:
Ruas da Cidade
Os olhos do poeta
Romance do terceiro oficial de finanças
1 comentário:
Bem disse Novalis: "Quanto mais poético, mais verdadeiro".
Até amanhã,
Rui
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