Vinte e seis anos, trinta amores: trinta
vezes a alma de sonhos fatigada.
e, ao fim de tudo, como ao fim de cada
amor, a alma de amor sempre faminta!
Ó mocidade que foges! brada
aos meus ouvidos teu futuro, e pinta
aos meus olhos mortais, com toda a tinta,
os remorsos da vida dissipada!
Derramo os olhos por mim mesmo... E, nesta
muda consulta ao coração cansado,
que é que vejo? que sinto? que me resta?
Nada: ao fim do caminho percorrido,
o ódio de trinta vezes ter jurado
e o horror de trinta vezes ter mentido!
Humberto de Campos Veras nasceu em Miritiba (MA) a 25 de Outubro de 1886 e morreu tuberculoso no Rio de Janeiro a 5 de Dezembro de 1934. Órfão aos 6 anos, passou uma infância e uma juventude atribuladas: marçano numa casa de miudezas da sua terra natal, caixeiro num armazém de secos e molhados em São Luís do Maranhão, empregado num seringal do Amazonas aos 17 anos, jornalista em Belém do Pará (sucessivamente redactor, secretário de redacção e director do jornal «A Província», fez largas digressões pelo interior do Brasil). De todas estas andanças, obteve uma rica experiência de vida. Acabou por se fixar no Rio, onde depressa se tornou no cronista brasileiro mais popular de sempre (chegava a escrever 4 ou 5 crónicas por dia, que, reunidas, deram dez volumes). Autodidacta, o seu talento congénito, aliado à perseverança, levaram-no a ser eleito «príncipe dos prosadores brasileiros». Mas estreara-se, em 1911, com um livro de versos, «Poeira» e, em 1933, reuniu as suas «Poesias Completas» (1904 a 1931). Mais conhecido, porém, como prosador, além de cronista, foi contista, crítico literário e memorialista. As suas obras completas contam mais de trinta volumes.
Ler neste blog, do mesmo autor:
Dor,
Tuas Cartas rasguei ;
Semente do Deserto;
No trem
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