ser o sonho de amor com que sonhavas,
se hoje ao mundo voltasses, não verias
aquela mesma face, que mimavas.
Mudou-se-me o destino, mal partias,
pois órfão do destino me deixavas,
e, na ronda das horas e dos dias,
tudo mais se mudou, porque mudavas.
Sucederam-se os anos… Envelheço,
mas, se a luz em meus olhos já rareia,
a mocidade nos teus olhos brilha.
Contemplo-te o retrato e me enterneço
− Tal é a distância que entre nós medeia,
que hoje pareces minha própria filha.
ENRIQUE DE RESENDE (n. em Cataguases, Minas Gerais a 13 de Agosto de 1899 - m. 16 de Setembro de 1973 no Rio de Janeiro).
Soneto extraído de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
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