No monte, o lavrador, cansado da labuta
Do dia que passou, monótono, uniforme
São oito horas, ceou, recolheu-se e já dorme,
Feliz por ver medrar as terras que desfruta.
A lavradora, não; activa e resoluta,
Moireja até mais tarde e descansa conforme
A faina lho consente e a barafunda enorme
De homens e de animais que em derredor se escuta
Mas a filha, que tem vinte anos e que sente,
Nas solidões da herdade, a alma descontente
E o sangue a referver num sonho tresloucado,
Encosta-se à janela; ouvem-se as rãs e os grilos;
E os olhos de azeviche, ardentes e tranquilos,
Ficam-se horas a olhar as sombras do montado...
Conde de Monsaraz (António de Macedo Papança, n. Reguengos, 18 Jul 1852; m. Lisboa a 17 Jul 1913)
Do dia que passou, monótono, uniforme
São oito horas, ceou, recolheu-se e já dorme,
Feliz por ver medrar as terras que desfruta.
A lavradora, não; activa e resoluta,
Moireja até mais tarde e descansa conforme
A faina lho consente e a barafunda enorme
De homens e de animais que em derredor se escuta
Mas a filha, que tem vinte anos e que sente,
Nas solidões da herdade, a alma descontente
E o sangue a referver num sonho tresloucado,
Encosta-se à janela; ouvem-se as rãs e os grilos;
E os olhos de azeviche, ardentes e tranquilos,
Ficam-se horas a olhar as sombras do montado...
Conde de Monsaraz (António de Macedo Papança, n. Reguengos, 18 Jul 1852; m. Lisboa a 17 Jul 1913)
Ler do mesmo autor: Os Bois; Moças de Bencatel
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