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2008-06-23

Minha Mãe - Martins Fontes

Beijo-te a mão que sobre mim se espalma
para me abençoar e proteger.
Teu puro amor o coração me acalma;
provo a doçura do teu bem-querer.

Porque a mão te beijei, a minha palma
olho, analiso, linha a linha, a ver
se em mim descubro um traço da tua alma,
se existe em mim a graça do teu ser.

E o M, gravado sobre a mão aberta,
pela sua clareza, me desperta
um grato enlevo, que jamais senti:

quer dizer – Mãe – este M tão perfeito
e, com certeza, em minha mão foi feito
para, quando eu for bom, pensar em ti.

José Martins Fontes nasceu em Santos (SP) a 23 de Junho de 1884 e morreu a 25 de Junho de 1937. Diplomou-se em Medicina pelo Rio em 1907 e iniciou a sua actividade profissional como interno do hospital de alienados. Diz-se que receitava aos neurasténicos e às histéricas a leitura de obras literárias. Trabalhou nas docas de Santos, tendo como clientes gente pobre e trabalhadores humildes, mas veio a ser delegado de Saúde. Popularíssimo, mas totalmente desprovido de vaidade, foi também jornalista e conferencista. Filosoficamente, era positivista e a sua poesia traduz entusiasmo pela vida, pela beleza e pela arte. Possuía riqueza de imaginação, virtuosismo formal e gosto da técnica do verso, mas excessiva verbosidade, exuberância retórica e barroquismo tropical.


Soneto e Nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

Ler do mesmo autor: Se eu fosse Deus...

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