Flor de Pessegueiro
A melindrosa flor de pessegueiro
Deixei-a, como dádiva de amores,
A essa que tem o rosto feiticeiro
E os lábios cor das purpurinas flores.
E a tímida andorinha, de asas quietas,
Dei-a também como lembrança minha,
A essa que tem as sobrancelhas pretas,
Iguais às asas da andorinha.
No dia imediato a flor morria,
E a andorinha voava, entre esplendores,
Sobre a Grande Montanha onde vivia
O Génio oculto que preside às flores.
Mas nos seus lábios, como a flor abrindo,
Conserva a mesma carnação,
E não voaram, pelo azul fugindo
As asas negras dos seus olhos, não!
in Poesias Completas - António Feijó, Prefácio de J. Candido Martins, Edições Caixotim
António Joaquim de Castro Feijó nasceu em Ponte de Lima (Minho) a 1 de Junho de 1859 e faleceu em Upsala (Suécia) a 20 de Junho de 1917. Formado em Direito pela universidade de Coimbra (1883), consagrou-se à carreira diplomática: foi cônsul no Rio Grande do Sul (1886) e passou por Pernambuco antes de se fixar, em 1891, em Estocolmo. Aí foi nosso ministro plenipotenciário, para toda a Escandinávia, e decano do corpo diplomático. A morte da esposa, uma senhora meio-sueca meio-equatoriana, Maria Luísa Carmen Mercedes Juana Lewin (1878-1915), vítima de cancro, mais não fez que agravar o pessimismo inato do poeta, que mal lhe sobreviveu. É um autor de transição do parnasianismo para o simbolismo. O seu soneto, que faz parte das «Líricas e Bucólicas» (1884), parece ter sido motivado pela morte de uma tricana, ainda nos tempos de Coimbra.
Nota biobliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
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