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2008-04-18

Quando eu morrer - Costa Alegre

Não quero, tenho horror que a sepultura
mude em vermes meu corpo enregelado;
se no fogo viveu minha alma pura,
quero o meu corpo morto calcinado.

Depois de ser em cinzas transformado,
lancem-me ao vento, ao seio da Natura;
quero viver no espaço ilimitado,
no mar, na terra, na celeste altura.

E talvez no teu seio, ó virgem linda,
tão branco como o seio da virtude,
eu, feito em cinzas, me introduza ainda!

E no teu coração pequeno e forte
(ó gozo triste!) viva eu na morte,
já que na vida lá viver não pude.

Caetano da Costa Alegre nasceu em Vila da Trindade (São Tomé) a 26 de Abril de 1864 e morreu, tuberculoso, em Alcobaça a 18 de Abril de 1890. Veio com 19 anos para a metrópole, onde fez os estudos preparatórios, matriculando-se na Escola Médica de Lisboa, mas a morte surpreendeu-o durante o 3.º ano do curso. Sentiu como uma maldição a cor negra e os seus versos, cheios de melancolia, são minados pela nostalgia da ilha natal. Os seus sonetos são do vol. «Versos» editado postumamente, em 1916.


Soneto e nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

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