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2008-02-08

Vazio - Augusto Schmidt

A poesia fugiu do mundo.
O amor fugiu do mundo —
Restam somente as casas,
Os bondes, os automóveis, as pessoas,
Os fios telegráficos estendidos,
No céu os anúncios luminosos.

A poesia fugiu do mundo.
O amor fugiu do mundo —
Restam somente os homens,
Pequeninos, apressados, egoístas e inúteis.
Resta a vida que é preciso viver.
Resta a volúpia que é preciso matar.
Resta a necessidade de poesia, que é preciso contentar.

Augusto Frederico Schmidt nasceu a 18 de Abril de 1906 no Rio de Janeiro, onde se finou a 8 de Fevereiro de 1965. Passou a infância em Lausanne (Suíça). De 1923 a 1925, foi caixeiro-viajante em São Paulo. Comerciante e diplomata, fundou uma companhia de seguros e tornou-se sócio de várias empresas industriais. É autor de sonetos brancos em verso livre. Alguns títulos da sua obra: «Canto da Noite» (1934), «Estrela Solitária» (1940), «Mar Desconhecido» (1942). A sua poesia torrencial, cheia de apóstrofes e anáforas, é caracterizada pela retórica sentimental: interiorização e espiritualização, solidão, amargura e melancolia, transitoriedade ou efemeridade da vida e das coisas.

Nota biobliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004).

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