e se lá no cio acorda o sono
esse lábio incita línguas lassas
à míngua de sangue reaviva o sopro
no levante onde bóia o arco eleito –
são mãos que entornam o mar
em ressegadas laringes sobrepulsas
mas o eixo que move os peixes paira
ao longe abutre cerca o sol morrido –
e se lá seu ventre é angra escura
ânfora de escuma tragando o remoinho
se o anzol lançado fere o torso afaga
a quilha arfante zumbida de abelhas
a roxa vaga raiva e lambe o arco-íris
até que à tona morna surjam escamas
apodrecidas algas cor de lótus –
no poente dorme o arco redestenso
e se lá no céu a lua neva nós
os caninos enjaulados tornamos o véu
de alas rociadas – aurora lunular
abrindo em brios nova rota ou reta
trilha em tempo de eclipse – elipse
de luar em que deslumbra a flor do ócio
in Poesia Brasileira do Século XX, dos Modernistas à Actualidade, selecção introdução e notas de Jorge Henrique Bastos, Edições Antígona
José Lino Grünewald (n. no Rio de Janeiro a 13 Fev. 1931; m. em 26 Jul 2000)
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