Não quero achar o que os outros perderam:
as moedas no chão, os guarda-chuvas
esquecidos nos ônibus, e a vida
deixada por engano sobre o asfalto.
Ao que ninguém viu, aspiro; ao que existiria
em forma de mar e árvore, se a natureza habitual não irrompesse
com suas sombras e cigarras e cascatas.
Quero, sonho e admiro o inédito
como a noite no caracol de uma escada
contudo perto das constelações se eu pudesse vê-las de outro planeta.
Não me comove o irretornável nem o tempo caído.
Em jogo descoberto, crio minha emoção
e à janela contemplo a noite formal
e eu mesmo sou ogiva aberta aos grandes astros.
O que se perdeu, vai-se embora, como os anéis
separados das mãos, como a ventania
se afasta das bandeiras no momento das bonanças.
Sono perdido; zonas de transição que serão eternamente minhas; luz oculta em covil
não me volto para achar-vos. E sempre adiante busco
minha paisagem impor-se nas paliçadas alheias.
in Poesia Brasileira do Século XX - Dos modernistas à Actualidade - Edições Antígona
LEDO IVO (n. em Maceió, Alagoas a 18 Fev 1924; ~)
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