Eu que resisto aos rios e às árvores
por muito que por plácidos me imponham
a sua incontestável existência
jamais a ti tão frágil eu opus resistência.
Não sei se te consente recordar
aquilo que por vezes te dizia:
procuro o teu mistério nos teus olhos
o teu rosto é tão vasto como um mundo
e quanto mais te olho mais pressinto
que é em vão que te procuro o fundo;
eu tinha o meu passado a minha vida
conhecia o lugar de certas coisas
e agora que te vi tudo esqueci
e se não tenho nada nem te tenho mesmo a ti
como posso pensar em ter futuro
se tu és para mim o puro instante
e a eternidade em que me transfiguro?
Eu não posso medir o que te dou
pois o mínimo gesto que te estendo
ao arriscar-me a mim arrisco quanto sou
A quem poderei hoje perguntar por ti?
RUY de Moura Ribeiro BELO nasceu em Rio Maior (Ribatejo) a 27 de Fevereiro de 1933 e faleceu em Queluz a 8 de Agosto de 1978. Matriculou-se em Direito em Coimbra, mas concluiu a formatura em Lisboa (1956). Doutorou-se em Direito Canónico na universidade gregoriana de Roma (1958). Regressado a Lisboa, tirou o curso de Filologia Românica (1961/67). Em 1971, foi leitor de Português na universidade de Madrid. À data da morte, leccionava nos cursos nocturnos da escola técnica do Cacém, como professor provisório. Chegara a advogar e foi também tradutor e ensaísta: «Na Senda da Poeira» (1969). A sua poesia oferece-nos um discurso caudaloso de índole auto-reflexiva e experimentação formal. É uma complexa procura existencial, mais ontológica que religiosa, que conjuga uma ironia superior com a maestria linguística. O autor abandonara a Opus Dei e assumira uma posição política.
Ler do mesmo autor: E tudo era possível; Mas que sei eu...; Nomeei-te no meio dos meus sonhos; To Helena
Nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004).
por muito que por plácidos me imponham
a sua incontestável existência
jamais a ti tão frágil eu opus resistência.
Não sei se te consente recordar
aquilo que por vezes te dizia:
procuro o teu mistério nos teus olhos
o teu rosto é tão vasto como um mundo
e quanto mais te olho mais pressinto
que é em vão que te procuro o fundo;
eu tinha o meu passado a minha vida
conhecia o lugar de certas coisas
e agora que te vi tudo esqueci
e se não tenho nada nem te tenho mesmo a ti
como posso pensar em ter futuro
se tu és para mim o puro instante
e a eternidade em que me transfiguro?
Eu não posso medir o que te dou
pois o mínimo gesto que te estendo
ao arriscar-me a mim arrisco quanto sou
A quem poderei hoje perguntar por ti?
RUY de Moura Ribeiro BELO nasceu em Rio Maior (Ribatejo) a 27 de Fevereiro de 1933 e faleceu em Queluz a 8 de Agosto de 1978. Matriculou-se em Direito em Coimbra, mas concluiu a formatura em Lisboa (1956). Doutorou-se em Direito Canónico na universidade gregoriana de Roma (1958). Regressado a Lisboa, tirou o curso de Filologia Românica (1961/67). Em 1971, foi leitor de Português na universidade de Madrid. À data da morte, leccionava nos cursos nocturnos da escola técnica do Cacém, como professor provisório. Chegara a advogar e foi também tradutor e ensaísta: «Na Senda da Poeira» (1969). A sua poesia oferece-nos um discurso caudaloso de índole auto-reflexiva e experimentação formal. É uma complexa procura existencial, mais ontológica que religiosa, que conjuga uma ironia superior com a maestria linguística. O autor abandonara a Opus Dei e assumira uma posição política.
Ler do mesmo autor: E tudo era possível; Mas que sei eu...; Nomeei-te no meio dos meus sonhos; To Helena
Nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004).
Sem comentários:
Enviar um comentário