(Foto: Filipe Araújo/Agência "Estado"). Extraída daqui
Eu hei-de despedir-me desta lida,
rosas? – Árvores, hei-de abrir-vos covas
e deixar-vos ainda quando novas?
Eu posso lá morrer, terra florida!
A palavra de Deus é a mais sentida
deste meu coração cheio de trovas...
Só bens me dê o céu! Eu tenho provas
que não há bem que pague o desta vida.
E os cravos, manjerico e limonete,
oh, que perfume dão às raparigas!
Que lindos são nos seios do corpete!
Como és, nuvem dos céus, água do mar,
flores que eu trato, rosas e cantigas,
cá, do outro mundo, me fareis voltar.
Joaquim AFONSO Fernandes DUARTE nasceu na Ereira (concelho de Montemor-o-Velho) a 1 de Janeiro de 1884 e morreu paraplégico em Coimbra a 5 de Março de 1958. Bacharelado em Ciências Físico-Naturais pela universidade de Coimbra, foi professor da Escola Normal e, apesar de se ter distinguido na pedagogia do Desenho e Etnografia Artística, viu-se compelido a abandonar o ensino, em 1932, por motivos de ordem política. A sua poesia rústica, de raiz humanista, vai do saudosismo ao neo-realismo, passando pelo presencismo, mas mantendo sempre uma originalidade própria.
Soneto e nota bibiliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
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