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2008-01-25

Linda Inês - Afonso Lopes Vieira

Choram ainda a tua morte escura
aquelas que chorando a memoraram;
as lágrimas choradas não secaram
nos saudosos campos da ternura.

Santa entre as santas pela má ventura,
rainha mais que todas que reinaram;
amada, os teus amores não passaram
e és sempre bela e viva e loura e pura.

Ó linda, sonha aí, posta em sossego
no teu moimento de alva pedra fina,
como outrora na fonte do Mondego.

Dorme, sombra de graça e de saudade,
colo de garça, amor, moça, menina,
bem-amada por toda a eternidade.

Afonso Lopes Vieira
nasceu em Cortes (Leiria) a 26 de Janeiro de 1878 e faleceu em Lisboa a 25 de Janeiro de 1946. Era sobrinho-neto do poeta ultra-romântico Rodrigues Cordeiro. Matriculou-se, em 1895, na faculdade de Direito de Coimbra, onde se manteve até 1900, após o que chegou a exercer a advocacia na capital, embora por pouco tempo. Passava o inverno em Lisboa e o verão em São Pedro de Muel. Viajou por Espanha, França, Bélgica, Itália, Norte de África, Brasil (1928) e Angola (1931). O seu ideal consistia em «reaportuguesar Portugal, tornando-o europeu». Empreendeu, de 1910 a 1913, uma campanha vicentina, que consistiu em transpor dos livros para o tablado teatral peças de Mestre Gil. Restituiu à nossa língua obras como «O Romance de Amadis» (1922) e a «Diana» de Jorge de Montemor (1924). Traduziu para português «O Poema do Cid» (1929). Colaborou com o Dr. José Maria Rodrigues na edição nacional d' «Os Lusíadas» (1928) e da «Lírica» de Camões (1931). Reeditou as obras do seu conterrâneo Rodrigues Lobo. Escreveu para o cinema os diálogos dos filmes «Inês de Castro» (1945) e «Camões» (1946) de Leitão de Barros. Preso por motivos políticos, a experiência do cárcere fez-lhe dizer: «O Poeta português/ que não passar ao menos uma vez/ pelas prisões/ não será digno aluno de Camões».
Soneto e ficha bibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado, Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa, Edições Unicepe, 2004»

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