Ponho os olhos em mim, como se olhasse um estranho,
e choro de me ver tão outro, tão mudado...
sem desvendar a causa, o íntimo cuidado
que sofro de meu mal – o mal de que provenho.
Já não sou aquele Eu do tempo que é passado;
pastor das ilusões, perdi o meu rebanho;
não sei do meu amor, saúde não na tenho
e a vida sem saúde é um sofrer dobrado.
A minha alma rasgou-ma o trágico Desgosto
nas silvas do Abandono, à hora do sol-posto,
quando o azul começa a diluir-se em astros...
E, à beira dum caminho, até lá muito longe,
como um mendigo só, como um sombrio monge,
anda o meu coração em busca dos seus rastros...
JOSÉ António DURO Jr. nasceu em Portalegre a 22 de Outubro de 1875 e morreu, tuberculoso, em Lisboa, a 18 de Janeiro de 1899. Filho de pais incógnitos (o industrial José António Duro e a operária de lanifícios Maria da Assunção Cardoso), frequentou a Escola Politécnica e as tertúlias dos cafés lisboetas. Sensibilidade aguda e mórbida, os poucos anos que viveu não lhe permitiram adquirir uma voz própria e os seus versos carecem de originalidade, pois acusam ecos alheios. O seu livro «Fel» (1898) vale, assim, como documento humano pungente, que só se impõe pela veemência da dor e a autenticidade do desespero.
e choro de me ver tão outro, tão mudado...
sem desvendar a causa, o íntimo cuidado
que sofro de meu mal – o mal de que provenho.
Já não sou aquele Eu do tempo que é passado;
pastor das ilusões, perdi o meu rebanho;
não sei do meu amor, saúde não na tenho
e a vida sem saúde é um sofrer dobrado.
A minha alma rasgou-ma o trágico Desgosto
nas silvas do Abandono, à hora do sol-posto,
quando o azul começa a diluir-se em astros...
E, à beira dum caminho, até lá muito longe,
como um mendigo só, como um sombrio monge,
anda o meu coração em busca dos seus rastros...
JOSÉ António DURO Jr. nasceu em Portalegre a 22 de Outubro de 1875 e morreu, tuberculoso, em Lisboa, a 18 de Janeiro de 1899. Filho de pais incógnitos (o industrial José António Duro e a operária de lanifícios Maria da Assunção Cardoso), frequentou a Escola Politécnica e as tertúlias dos cafés lisboetas. Sensibilidade aguda e mórbida, os poucos anos que viveu não lhe permitiram adquirir uma voz própria e os seus versos carecem de originalidade, pois acusam ecos alheios. O seu livro «Fel» (1898) vale, assim, como documento humano pungente, que só se impõe pela veemência da dor e a autenticidade do desespero.
Soneto e nota bibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
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