Quem viu mal como o meu, sem meio activo?
Pois, no que me sustenta e me maltrata,
é fero quando a morte me dilata,
quando a vida me tira é compassivo!
Oh! do meu padecer alto motivo!
Mas oh! do meu martírio pena ingrata!
Uma vez inconstante, pois me mata;
muitas vezes cruel, pois me tem vivo!
Já não há, não, remédio, confianças,
que a Morte a destruir não tem alentos,
quando a Vida em penar não tem mudanças;
e quer meu mal, dobrando os meus tormentos,
que esteja morto para as esperanças
e que arda vivo para os sentimentos.
Gregório de Matos (n. 20 Dez. 1633 em São Salvador (BA); m. em 1696 no Recife (PE)).
in «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004
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