Na escrita, na voz ou na aparência
Jamais nos revelamos. Nosso ser
Nem palavra ou semblante o vão dizer.
De nós a alma longe em permanência.
Por mais que a vontade ao pensar dermos
De, por artes, sermos revelados,
Os corações se quedam encerrados
E no que nos mostramos, escondemos.
Abismo de alma a alma intransponível
Não há pensar ou arte que o desfaça;
Distantes de nós mesmos, impossível
Nosso ser ao pensamento revelar.
Sonhos de nós, a alma em clarões passa
E um noutro se vê em seu sonhar.
Fernando António Nogueira Pessoa (n. em Lisboa, a 13 de Junho de 1888 — m. em Lisboa a 30 de Novembro de 1935).
in 35 Sonnets
Poesia Inglesa (I) - edição e tradução de Luísa Freire - Assírio Alvim, Março de 2000
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