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2007-05-25

O livro que estou a ler

-A minga amiga da Blogosfera Cristiane de Fragmentos de Mim lançou-me um desafio, em 21 de Maio, para falar "sobre o livro que esteja lendo de momento". É o que me proponho fazer agora:

Confesso que não leio muita literatura. Romances, contos, novelas, não raro começo-os ... e deixo-os ao meio. Alguma indisponibilidade minha provoca que ... haja descontinuidade na leitura a exigir um esforço de recuperação quando se pretende retomar. E assim... Posso dizer que já tentei ler «Os Versículos Satânicos» de Salman Rushdie (para tentar perceber porque o condenaram à morte..) por umas dez vezes : desisti!

Por isso as minhas leituras nos últimos tempos são dirigidas ou orientadas para a poesia:

Porque cada poema tem a sua estanquicidade, é fácil ler um dois ou ... dez, numa ocasião e não há necessidade de os reler para ler o segundo, o terceiro...ou o décimo-primeiro... do mesmo autor ou da mesma obra. Por isso, não pode haver indisponibilidade que justifique a não leitura de poesia.

Depois há:

- a musicalidade das palavras: há poemas que ao serem lidos ou ao serem ditos são como peças musicais!

- A transformação das emoções em palavras: quantas vezes encontro num poema aquilo que sinto naquele momento ou que já senti noutra ocasião. Vive-se frequentemente aquela sensação de «eu teria escrito isto se tivesse sido capaz» . Os poetas são os artistas que melhor sabem transcrever em palavras as emoções, os sentimentos! São os operários do espírito.

Um poema é como um quadro pintado sem tela. Penso que a poesia é a manifestação artística mais completa: É música, é a arquitectura das palavras, é pintura. Poesia é Natureza, é imaginação, fantasia e sonho! Capaz de nos transmitir a beleza duma rosa como a agrura agreste de um cardo!

Queridos amigos ou visitantes leiam poesia.

Neste momento que escrevo tenho dois livros na secretária:

Um é a "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica" - selecção, prefácio e notas deNatália Correia- Edição Antígona : Dentro de um tema mais limitado, tem desde belos poemas de amor a poemas que nos deixam algo incomodados! «Próprio é da natureza humana aspirar ou saborear o extase que coroa a exaltação amorosa, sempre que pelo desejo, ou pela plenitude da realização, sublimando o objecto do desejo, tende numa feliz definição de Benjamim Pérez a «sexualizar o universo» » diz-se a certo passo do Prefácio.

A parte irónica e satírica vai da crítica social a «cantigas de mal-dizer». É interessante também pela sua perspectiva histórica porque engloba poemas recolhidos de várias épocas, quase desde que Portugal existe.

O outro é «Poemas de Amor» - antologia de poesia portuguesa - organização e prefácio de Inês Pedrosa , Publicações Dom Quixote.

Deixo-vos ficar com dois poemas de que gosto especialmente (e de que, por isso, já noutras ocasiões editei no blog) um de cada um das obras mencionadas:

TERNURA - David Mourão-Ferreira

Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão Ferreira (incluído na primeira das obras indicadas)


Amo-te muito, meu amor, e tanto - Jorge de Sena

Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.

Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,

um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo,

tão quase é coisa ou sucessão que passa...
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.

Jorge de Sena (incluido na Antologia Poemas de Amor)

Pois bem meus amigos e visitantes, tenham um belo fim de semana, com beijos, sorrisos, flores e ... poesia!

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