Não me quero com o tempo nem com a moda,
olho como um deus para tudo de alto,
mas, zás! do motor corpo o mau ressalto
me faz a todo o passo errar a coda.
Porque envelheço, adoeço, esqueço
qanto a vida é gesto e amor é foda;
diferente me concebo e só do avesso
o formato mulher se me acomoda.
E, se nave vier do fundo espaço
cedo raptar-me, assassinar-me, cedo:
logo me leve, subirei sem medo
à cena do mais árduo e do mais escasso.
Um poema deixo, ao retardador:
meia palavra a bom entendedor.
extraído de «A Circulatura do Quadrado Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa», Edições Unicepe, 2004
Maria Luiza Neto Jorge (n. em Lisboa a 10 de Maio de 1939; m. em Lisboa a 23 Fev. 1989).
Ler da mesma autora, neste blog:
As casas vieram de noite
O poema ensina a cair
Magnólia
Sem comentários:
Enviar um comentário