Ouvir a tua voz, outrora, era o bastante
Para sentir, enfim, justificada, a vida;
E supor que podia, a partir desse instante,
Abrir, impunemente, ao mundo, confiante,
Minh'alma enternecida.
Fitar o teu olhar, era um deslumbramento,
Que me transfigurava e me fazia crer
Que depois de viver, na terra, esse momento,
- Sereno, como após o extremo sacramento -,
Já podia morrer.
Premia as tuas mãos nas minhas e dizia,
Com profunda emoção: - É só por ti que existo!
- Como foi isto, amor? Do nosso olhar, um dia,
Caiu neve no fogo em que a minh'alma ardia...
Amor, como foi isto?!
Passas por mim, agora, e nada me insinua
Ser a tua presença o derradeiro elo
Que me prendia à vida. - E a vida continua!
E tudo, como outrora, (o sol, o mar, a lua...)
Mesmo sem ti, é belo!
Como havemos de ter, nos outros, confiança?
Que humano sentimento a nossa fé merece?
De que servem, na vida, os ideais e a esperança,
Se o próprio Amor, -- como os brinquedos, em criança --,
Tão cedo, para nós, perde o encanto e esquece?!
José Carlos Queiroz Nunes Ribeiro (n. Lisboa 5 Abr 1907, m. Paris, 27 Out 1949)
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Pastoral
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Canção Grata
Desaparecido
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