Na efeméride da morte desde grande poeta popular português:
MOTE
Meu amor já veio de França,
Trouxe-me uma biciclete;
Ele diz que aquilo cansa,
Mas também não paga frete.
GLOSAS
No dia em que ele chegou
foi ao meu sítio passear,
Pra me ver e pra mostrar
A lembrança que comprou.
Quando em minha casa entrou,
Eu vi a linda lembrança,
E assim me nasceu a esperança
De andar naquilo também...
Fui dizer à minha mãe:
Meu amor já veio de França.
"Se queres. monto-te agora..."
Montou-me, mas foi agoiro,
Aquilo deu logo um estoiro.
Ele disse: "Não demora."
Tirou a coisa pra fora,
Que noutra coisa se mete.
Deu seis sacadas ou sete,
E logo a roda se encheu.
Enfim, para andar mais eu
Trouxe-me uma biciclete...
Às vezes manda-me pôr
No quadro, à frente, e abala.
Depois é ele que pedala,
Mas entrega-me o guiador.
Já tenho dito: "Ai, amor,
Com que força isto avança."
Gosto de andar nesta dança,
Pois não pedalo, nem nada;
Eu vou muito descançada,
Ele diz que aquilo cansa.
Na velocidade, murmuro,
Digo: "Ai, amor, vou prò céu...
Vê lá se rompe algum pneu,
Conta amor com algum furo..."
Diz ele: "O pneu está duro,
Só um prego que se espete,
Ou alguma camionete
Que não buzine, nem toque."
Sujeita-se a gente ao choque,
Mas também não paga frete!
António Fernandes Aleixo (n. em Vila Real de Santo António, 18 Fev 1899; m. em Loulé a 16 Nov 1949)
Ler do mesmo autor: Quadras de António Aleixo
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