Páginas

2006-09-25

País Macrocéfalo

Miguel Cadilhe no Expresso do passado sábado em título "País Macrocéfalo" escreve que "o concentracionismo é o que é. É entorse que o crescimento, a eficiência e a acumulação fazem ao desenvolvimento. Uma entorse que os políticos têm o dever de contrariar…".

Porém, o que é que os políticos em Portugal, na realidade fazem?

Sob pretextos de racionalidade económica (que como economista rejeito) as decisões políticas que são tomadas são (quase) todas concentracionistas, de agravamento das assimetrias regionais e de incentivo (em vez de combate) à desertificação do interior.

Para não ir muito longe, no Euro 2004 construiram-se estádios novos e remodelaram-se outros, no total de dez. Qual a localização geográfica? Todos na orla litoral. Nem um (em dez!!) situou-se no interior do país. A que pretexto? A da racionalidade sobre a futura utilização dos mesmos? Como, se vemos, designadamente os Estádios de Leiria e de Faro-Loulé com um número de espectadores invariavelmente reduzido?

Mais recentemente temos a questão das Maternidades. Alegando formalmente, não critérios de racionalidade económica, claro, mas de interesse público de qualidade dos serviços prestados, acabam-se com as maternidades de que cidades / regiões ? E movem-se ou transferem-se os utentes para que cidades / regiões? Não há médicos, as condições não são as melhores?

Pois é! Em vez de se combater as causas eliminam-se os efeitos. Trata-se de terapia sintomática.

E na educação? A mesma coisa. Fecham-se as escolas com menor número de alunos e fazem-se deslocá-los para outras. Mais custos e desconforto para as populações afectadas. Mas as outras escolas têm melhores condições de instalação e melhores condições pedagógicas que compensam aqueles custos ? Não está nada provado sobre isso.

Permito-me terminar como Cadilhe quando escreve "Releio, a propósito «Portugal país macrocéfalo», 1966. O livro mereceria uma adenda, 40 anos volvidos, em jeito de espantosa confirmação das tendências que o jornalista Silva Costa desnudou aos olhos do regime, estava Salazar para partir, Marcelo para chegar".

Pois é .. hoje como há 40 anos, agora aliás, há muita gente a falar (já se pode fazê-lo), mas não se vê os políticos com vontade (e capacidade) de ajudar a resolver o problema.

Sem comentários:

Enviar um comentário