Somos duas crianças! E bem poucas
no mundo há como nós: pois, minto e mentes,
se te falo e me falas; e bem crentes
somos de nos magoar, abrindo as bocas...
Mas eu bem sinto, em teu olhar, as loucas
afeições, que me tens e também sentes,
em meu olhar, as proporções ingentes
do meu amor, que, em teu falar, há poucas!
Preza aos céus que isto sempre assim perdure:
que a voz engane no que o olhar revela;
que jures não amar, que eu também jure...
Mas que sempre, ao fitarmo-nos, ó bela,
penses: "Como ele mente" e que eu murmure:
"quanta mentira tem os lábios dela!".
Benedito Luís Rodrigues de Abreu (n. Capivari (SP) a 27 Set 1897; m. em Bauru (SP) a 24 Nov 1927)
Sem comentários:
Enviar um comentário