Na doce paz da tarde que declina
Após a faina sob um sol ardente,
Vão os bois recolhendo lentamente
Pelas vias desertas da campina.
Atravessam depois a cristalina
Ribeira e ao flébil som da água corrente
Bebem sedentos, demoradamente,
Numa sensual dureza que os domina.
Mas quando, fartos d'água, erguendo as frontes,
Os beiços escorrendo, olham os montes
E ouvem cantar ao alto os rouxinóis,
Eu fico-me a cismar, calado e triste,
Que um mundo de impressões, que uma alma existe
Nos olhos enigmáticos dos bois !
Conde de Monsaraz (António de Macedo Papança, n. Reguengos, 18 Jul 1852; m. Lisboa a 17 Jul 1913)
Em " Musa Alentejana "
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