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2006-05-03

Moças de Bencatel - Conde de Monsaraz

Ao arrumar uns livros antigos deparo-me com uma preciosidade, infelizmente em mau estado de conservação e autografado pelo autor com dedicatória ("Ao Costa Barreto, com admiração e estima" Urbano Tavares Rodrigues Out. 58)). Transcrevo este poema do Conde de Monsaraz sobre as Moças de Bencatel:


Ó moças de Bencatel,
não vos zangueis se vos ralho:
muito amor, pouco trabalho;
pouco trigo,muito mel;
- fiai-vos no que vos digo
e não fiqueis mal comigo,
ó moças de Bencatel -
para vós, para a lavoura,
tomai tento, melhor fora
muito trigo, pouco mel.

Vejo terras de pousio,
que andaram sempre lavradas,
todas cobertas de flores;
mais quando chegar o frio
e passarem os calores,
e as chaminés apagadas
e as camas sem cobertores,
mal irá às namoradas
e pior aos lavradores.

Funçanatas e derriços.
cantigas e pasmaceiras,
fazem fugir aos serviços
e faltar às sementeiras:
eis porque estão os cortiços
abarrotados de mel
e estão desertas as eiras,
ó moças de Bencatel.

Como abelhas, as cantigas,
por entre moitas e brejos,
fabricam favos de beijos
nas bocas das raparigas,
e os mocetões das aldeias,
sem canseiras nem cuidados,
largam ancinhos e arados
para crestar as colmeias...

Ó moças de Bencatel,vós tendes as bocas cheias...
Acautelai-vos , senão
haveis de ficar sem mel,
sem maridos e sem pão!

(De «Musa Alentejana» , Conde de Monsaraz (1852-1913))

in Antologia da Terra Portuguesa - Alto e Baixo Alentejo.
Introdução, selecção e notas por Urbano Tavares Rodrigues
Livraria Bertrand

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