Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus
Eugénio de Andrade ( n. em 19 de Janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia, Fundão; m. em 13 de Junho de 2005, no Porto)
Poems in English
Os amantes sem dinheiro
Silencio
Poema XVIII
Urgentemente - É urgente o amor
1 comentário:
Ao ler a publicação do último poema tive que reler esta preciosidade...
Grande poeta...
Obrigada, sempre pelas lembranças :)
Beijinho,
Pekenina
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