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2006-01-19

Pequena elegia de Setembro - Eugénio de Andrade

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Young Woman With Roses By Anilte

Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.
Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?

Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.

Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?

Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.

Eugénio de Andrade ( n. em 19 de Janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia, Fundão; m. em 13 de Junho de 2005, no Porto)

Outros poemas do mesmo autor neste blog:
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Os amantes sem dinheiro
Silencio
Poema XVIII
Urgentemente - É urgente o amor
Às vezes tu dizias...

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