Un soneto me manda hacer Violante
y en vida no me he visto en tal aprieto;
catorce versios dicen que es soneto:
burla burlando, van los tres delante.
Yo pensé que no hallara consonante
y estoy a la mitad de otro cuarteto;
mas, si me hallo en el primer terseto,
no hay cosa en los cuartetos que me espante.
Por el primer terceto voy entrando
y aún presumo que entré com pie derecho,
pues fin con este verso le voy dando.
ya estoy en el segundo y aún sospecho
que estoy los trese versos acabando:
contad si son catorze, y está hecho.
Lope Félix de Vega (n. Madrid 25 Nov 1562, d. Madrid, 27 Aug 1562)
Um soneto me faz fazer Violante;
nunca na vida estive tão inquieto;
catorze versos dizem que é soneto,
brinca brincando vão os três diante.
Pensei que não achava consoante
e a metade estou deste quarteto;
mas, se me vejo no primeiro terceto,
nada há nos dois quartetos que me espante.
Pelo primeiro terceto vou entrando
e parece que entrei com o pé direito,
pois fim com este verso lhe estou dando.
No segundo já vou e até suspeito
que estou os treze versos acabando;
contai se são catorze, e já está feito.
Lope Félix de Vega (tradução de José Bento)
in A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa - Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL, 2004
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